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domingo, 31 de julho de 2011

qualquer dia...


Podia lamentar a perda, lamentar a ausência, 
lamentar o choro da vida que me seca, 
as folhas que se soltarão umas das outras, 
as cores que mudarão, 
até a um fim de vida previsto e anunciado...
Mas não lamento... não o sinto!
Afinal de contas, tudo em nós é somatório do que conseguimos, 
do que perdemos, 
do que sentimos ao longo dos tempos.
Eu podia afastar-te rapidamente de mim se fosse corajoso, 
ou se fosse cobarde?
Eu podia mentir-te nos dias, 
e dizer-te verdades durante as noites... 
Eu podia ser diferente... 
eu podia ser mais do que sou, 
podia ser arrebatador no sal que te dou, 
podia estar nas horas previstas e fazer magia, 
mesmo que ao abandonar do palco, 
voltasse infeliz, 
por não acreditar que a felicidade,
cresça na ferida... 
gostarias de mim se eu assim fosse ?
E quando, ao abrir os álbuns da minha vida, 
visse a mesma repartida, 
perdida, aleijada, ofendida, 
dar-te-ía nessa altura, 
a verdade durante o dia?

Sim! Eu tenho a mania... 
entre outras coisas, 
tenho uma imensa fobia, 
de perder o que tenho e fechar-me, 
numa cadeira que balouça, 
vazia...

Dolorosas são as lágrimas que se soltam,
do centro de nós pelo outro...
Dolorosas são as lágrimas que passam,
se arrastam em nós deixando de si um pouco...
Dolorosas são as mágoas,
que ficam, que marcam, que matam...
Dolorosa é a vontade não cumprida,
de ser louco, de cumprir com a partida,
de amar como se fosse hoje o último dia,
de ignorar o que já sentia...
Mas de louco tenho apenas um pouco...
uma pequena parte que acredita,
que tudo será mais fácil, 
qualquer dia!

8 Nov 2010

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Se

Se
 
Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.
Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas
Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos
Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres
Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos
Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo
Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo
Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.
Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"
Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente
Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender
Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado
Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam
 
Tua é a Terra 
e tudo o que nela existe 
e mais ainda, 
tu serás um Homem, meu filho!

(Tradução de Vitor Vaz da Silva do poema "IF" de Rudyard Kipling)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Essas, esses e essas...


"Eu nunca tenho dúvidas e raramente me engano."

Tento não acusar ninguém de nada. Como posso? Tenho telhados de vidro.
Existem muitas coisas que eu não percebo... mas a um nível diferente daquele que a ausência provoca.

Já traí e fui traído, já amei sem ser amado e já fui amado sem amar... já magoei sem querer e já magoei por querer... já caí nas ratoeiras mas também já fiz os outros cair...

Não me parece que eu saiba alguma coisa mais que os outros. Afinal de contas, que outros é que eu falo? Que outros é que eu conheço?

Seja como for, as perguntas não precisam de ser feitas, pois as respostas já estão dadas.

Quem me dera ter o poder de me ofender com as perguntas que imagino que me podem fazer, que me farão... era  a prova que tinha sido honesto e justo durante toda a minha vida... ou então, quem me dera ter o desdém e a sapiência, para anular os efeitos nas expressões que a mentira provoca, e com isso, passar de carrasco a vitima, e deixar-me sair das histórias com a certeza absoluta, que seria a imagem melhor de mim, aquela que fica.

Não! Não faço perguntas. Pois as respostas estão dadas.

As incertezas, os medos, as fobias... não se combatem com perguntas ou com jubas assanhadas de quem vive na certeza, e não concebe a falta da mesma...
Essas, esses e essas, combatem-se de tantas outras formas.
Pois... na incerteza que todas as respostas lê, fica no meio a minha certeza, que eu nunca tenho dúvidas, e raramente me engano.

Tenho talvez um dom, um jeito, um talento... e não sou a única pessoa que sei disso.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Avisei-me...



Vamos falar de SENTIMENTOS?
(5 de Maio de 2010)

É inevitável... as pessoas gostam umas das outras e querem tudo do melhor para aqueles de que gostam, e compreendem tudo quando gostam, e até aceitam ser postas de parte desde que isso seja bom para aqueles que gostam... É assim... o gostar é uma coisa magnífica... tudo de bom para todos vós, aqueles de quem eu gosto...

Mas atenção!!! As pessoas gostam de nós enquanto estivermos disponíveis para lhes dar tudo o que elas querem... compreendem tudo claro! mas se deixamos de ser exactamente aquilo que pretendem, então nada feito, já não querem saber de nós, já não se preocupam, já somos isto, já somos aquilo... se nos aproveitamos do seu gostar, somos abusadores, somos uns filhos da mãe, se não nos aproveitamos, se decidimos que esse gostar merece o dobro em troca, se decidirmos que por falta de certeza, o melhor é não destruir um gostar tão grande e tão honesto... então não desejamos, então não gostamos o suficiente, então desperdiçamos, então somos uns filhos da mãe, somos uns burros... como podemos nós recusar tal gostar?
Bem... quando as pessoas gostam de nós, e nós também gostamos dessas pessoas, elas esperam de nós tudo, em troca do tudo que elas nos dão... Sendo que o tudo é muito vago para medições tão complexas. E aí está toda a razão para o meu pensar demasiado, para todo este meu cansaço, para todo este meu embaraço...
Para muitos, não importa se a troca é justa, não importa o que se perde... o que importa, é seguir o coração... o que importa é gostar... e o gostar é tudo... e é tudo mais fácil quando temos connosco a pessoa que gostamos...
Mas é mais fácil para quem? Para quem recebe, para quem perde alguma coisa, para quem dá? Para quem é trocado? Para quem troca? Para todos?
Em nome do gostar, existem pessoas que abdicam de tudo. Em troca de apenas um sentimento que neles próprios cresce, agem convencidos apenas que o outro sente o mesmo, e que isso justifica tudo. E se calhar, justifica!
É lindo gostar assim não é?
E é fácil sermos confrontados com o que essas pessoas querem de nós... mesmo quando não nos querem confrontar com nada...
Pois eu também sou assim... faço tudo por um sentimento! 
Dentro de mim os sentimentos borbulham hoje de tal forma, que tenho dificuldade em interpretá-los, em lê-los... por isso escrevo-os imediatamente... não quero perdê-los de vista, perdê-los da memória.
Mas tento desculpar-me se sou um burro, se opto por não me aproveitar, ou se opto por desperdiçar um sentimento... porque a pergunta surge: então e o resto?
O que terá a outra pessoa para me dar em troca, além do sentimento? Mesmo que grande, mesmo que seja o mais forte que eventualmente posso merecer ou algum dia obter?
Terá força, terá independência? Terá objectivos bem definidos? Terá as condições para me suportar quando, manietado pelas perdas e trocas das minhas próprias escolhas, for necessária a sua ajuda?
E se a outra pessoa se apercebe que afinal, as pessoas não são só sentimentos, também precisam de coisas, de segurança, de ajuda... e se de repente, se nascem dúvidas sobre o que somos, o que queremos, o que fizemos? De que serve depois o sentimento? A vida são dois dias... e volta lá para a tua vidinha? Será isso o gostar apaixonado? Será o risco, o combustível do gostar?
É suposto que quem nada ainda tem ou quem anseia ainda por muito, tente alcançar a vida que julga perfeita com todas as suas forças... e é suposto que quem alguma coisa tem, valorize o que conquistou, e que confrontado com um sentimento enorme mas inesperado, um sentimento raro e tão intenso que naturalmente desejamos que nos guie em grande parte da vida, seja capaz de reflectir bem sobre o mesmo, para que possa arriscar tudo, ou arriscar nada, no tempo que achar certo, quando se sentir liberto do peso que pode colocar no outro... no fundo, primeiro sentir-se livre, não das pessoas, mas dos medos de não corresponder, de não ser correspondido, e depois sim arriscar-se por uma nova vida. 
O sentimento, por maior que seja... não chega! É preciso dar e receber... garantias! 
E se abdicar de uma vida por alguém, é uma grande garantia, qual o preço a pagar pelo outro por essa garantia? Será suportável esse preço? Será suportável tal sentimento?
Bem, mas tudo isto não faz sentido nenhum... se estiver a falar de amizade.
É suposto um grande sentimento, ter uma base de amizade, ou não? E ser antes de tudo um amigo, não será respeitar? Não será ter a certeza do que se pode dar, ser amigo não será ter medo de magoar, ter medo do mal que se pode criar?
Estou a falar de amizade... mas também estou a falar de outra coisa.
E, ao olhar para essa outra coisa, tão maravilhosa que me tolda os pensamentos, os momentos, que coloca em causa todos os outros sentimentos, resta-me olhar para dentro e pensar: eu não quero destruir isto... eu não quero correr o risco de destruir isto...
E então escudo-me nos meus medos, peço perdão a tudo e a todos pelo que sinto... fico apenas comigo, e aos outros eu peço: importas-te de ser apenas meu amigo? 
Isto enquanto aqui preso fico, enquanto aqui cresço, enquanto aqui me defino...



- Olá Sogrinha... como estás?
- Estou mais ou menos e o A.?
- Eu estou bem... não estejas triste...
- Mas o A. não percebe...
- Porque choras? Não há razão para isso...
- Porque o meu filho está desaparecido... e eu não tenho notícias nenhumas dele...
...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Algo o assustou...


Falo-me do André.
O André era bonito. Sorridente. Afável. Feliz sem saber porquê.

Das poucas pessoas que conheci bem, o André faz parte daquele grupo que vive inteiramente para os outros. E fá-lo de tal forma, que os outros que são poucos, a maior parte das vezes são tantos que não consegue dar conta do recado. Desdobra-se no tempo para ajudar todos, para que ninguém fique, em nenhum momento, “bloqueado”. 

O André não consegue, mas não se importa. “Depois compenso...” diz ele. O André acha que é possivel não deixar ninguém para trás, ou ficar atrás seja de quem for.

E acredita. Continua a acreditar. Acreditou. Esmoreceu. Duvidou. Castigou. Desistiu...

O André envelheceu. E com ele, todo o seu mundo perdeu a mocidade, a vontade... a liberdade que a Vida só nos pode fazer sentir, quando em nós encontramos a Felicidade.

O André conduz lentamente.
Naquele escuro de asfalto brilhante temporário, conforme as luzes falsas elevam as sombras, para as deixar cair após a passagem, deambula pelos longos minutos da história... quantos capítulos ficaram por ler, por escrever...


Nos olhos de André cai um tempestade. Liga o ‘limpa vidros’ mas não parece estar a funcionar. Todo o horizonte negro parece um mar alto, perigoso e definitivo.

 Respira fundo e mantém a atenção, na verdade receia que a pena suspensa pelas travessuras do passado, possa ser interrompida por um qualquer erro de cálculo, por uma qualquer distracção... E a tempestade não pára... na curva apertada que antecede a ponte pisa a berma, abranda ainda mais a marcha... desliga!



Corre pela beira... para trás ficam intermitentes as gotas de tempestade, consegue sentir o cheiro da bonança, e à medida que avança, cada vez mais no peito a confiança, de estar perto da esperança de encontrar a liberdade...

Sentou-se. Olhou o rio que se move, que alarga as margens, que banha lentamente as fragas... afunila ao fundo e encolhe, vira e desaparece.
As luzes das casas estão ora apagadas ora acesas e brilham... meu Deus como brilham as luzes das casas... o Silêncio! Não é bem silêncio... ouve o vento e lá no fundo nota-se o movimento, não sei se de pequenas ondas que batem nos calcanhares dos pilares ou, sei lá, algum pato ou pomba ou rato ou sombra, que salta na água...

Mas que grande fotografia. Que grande fim... para este dia. Procura a máquina, mas não encontra. Estará algures parada na faixa. 

Enche o peito de ar. A esperança entra forte pelas narinas. Fecha os olhos e acredita que é aquele dia, o dia certo para sentir a vida.
Despede-se do rio, despede-se do brilho, despede-se do calor sufocante por fora e imagina o frio...

Algo o assusta! Procura o carro mas ele está lá atrás, intermitente. Lembra que talvez ande ali gente, talvez vestido de agente... assustado em qualquer coisa pensa, abandona a varanda, corre e corre mas parece que no caminho não avança, chega finalmente e entra, coloca a chave e arranca, chega a casa e descansa...

Algo o assustou... e ele nem pensou: fugiu!

Entendo o André. Eu entendo!
O André continua de ‘pena suspensa’...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Quantas mãos...


Obrigado. | Online Karaoke

Quantas mãos são precisas
para não te ver chorar?
Pois foram tantas as mãos vazias,
que as tuas vi apertar...

De ti, o brilho de outrora não vi,
pois aí dentro hoje não existe a força,
nem a alegria que eu já senti.

Será um homem capaz de elevar o mundo,
até a um ponto de eternizar um segundo,
e esse mundo, mal agradecido, imundo,
por mais sorriso que invente
e que na sua direcção intente,
não te deixe enquanto homem
capaz de fazer apenas...
um tão pequeno apenas...
um apenas triste sorrir?

Foi um homem de olhar ausente e triste,
aquele que eu conheci...

Não é aquele sorriso que fazes,
no dia em que lá te vi,
de agradecimento pelas pazes,
que com todos e todas fazes...
É um outro agora neste dia,
e que pelo menos neste dia,
pareça que nunca houve um dia,
em que disseram mal de ti...

Não!

Não é aquela delicadeza...
é outra a leveza,
duas e três vezes na mesma palma,
de tão longe que está a tua alma...

Foi um homem a sorrir triste, aquele que eu vi.
Quanto te custou a vida, para nos ter aqui?

E agora que tudo parece que passa,
e que o futuro te abraça,
faz-te isto o destino,
não contente brada o sino!

Que pior mal te fará ainda,
que pena é esta que não finda
ano cruel que cria a farsa
pois não mereces esta desgraça...

Sei o que te custa isto, mas não insisto...
Sei que pouco vale a admiração que sinto...
Sei que não vale o que aqui fica escrito...

Sei o que sei...
fui pela vida assim criado.
Mas não custa dizer-te ao longe,
José Sócrates, Obrigado!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma janela...



Uma casa vazia, 
de paredes despidas, 
onde as janelas do dia, 
estão tapadas, vencidas, 
pelo mercúrio da ferida.

A porta que fecha, 
e desfez a brecha, 
por onde eu espreitava, 
e a minha alegria dava!

A chave lá fora, 
tão longe das esferas, 
sulcam no corpo agora, 
a distância das terras.


Quantos dias longos
cabem no vazio de um dia
quanto valem os tesouros
da vida que eu vivia...


Já tarde o meu coração aperta
e sangue sem cor injecta
nas veias da minha memória,
nas artérias da minha história.


Se páras não te acordo,
se respiras não te adormeço,
se me olhas, apenas te peço,
não me apontes, qualquer dedo!


Vida, não te faças rogada,
colocas-me outra vez
entre a parede e a espada?
aceitas o meu talvez
entre gemidos sem fala?


Não...
não aceitarás...
não... não aceitarás!
 
6 Out 2010

domingo, 17 de julho de 2011

Fui...



Fui... mas já não sou...
Quis ser... mas nem sempre fui!

Por entre horas de questões,
palpitações, sensações...
esqueci o óbvio,
as desilusões!

Tivesse este eu percebido,
que mais tarde ou mais cedo,
seria facilmente vencido,
pelo cansaço travestido,
de homem importante, querido,
amado,
consentido...

Quem tudo sabe, tudo desconhece...
e eu desconheço quase tudo!

Mas eu não critico, não me fico...
e no furo que implica,
o usar de um brinco,
fica a dor aguda,
a falta de tesura,
que separa a carne terna,
da ponta dura!

Tivesse eu sabido,
tivesse eu ouvido,
tivesse eu sentido,
pressentido,
e não estaria agora
em frente ao espelho,
a sentir-me desiludido!

Fui... mas já não sou!
Quis ser... mas quase nunca fui!

sexta-feira, 15 de julho de 2011


... está tudo bem. A estupidez também é o meu nome do meio.
Estão coisas prestes a acontecer que talvez não esteja preparado para viver.
Não tenho muito assunto, aceito. Percebo que seja difícil a admiração que sinto. Também aceito. Percebo que exista preocupação, e isso agradeço.
Mas enquanto eu acredito, não permito a critica sem fundamento.
Na minha vida nunca passei por cima de ninguém. Também nunca usei ninguém, e foram raras as vezes, que me queixei a alguém.
Tenho pena que as coisas que eu vivo, e que a ninguém conto de tão estranhas e improváveis que são, não sejam melhor aceites nos únicos sítios onde posso falar sobre elas em segurança.
Não quero qualquer critica. Já me basta a auto...
Vim embora porque, tal como na sueca, não sou grande parceiro de discussão. Quando eu discuto, ninguém ganha.
Não devia ter feito... mas foi um mal menor.

Não estou zangado nem triste... isso não existe entre irmãos...
Gostava apenas que fossem aceites as coisas que escolhi como importantes, no meio de tantas, que para mim nada valem.

Não me gabo. Não me vendo. Não me iludo.
Daqui a menos de 100 anos, vais ver que aquilo que fui até hoje, serei no futuro.

Um beijo e não te chateies comigo.

Acusas.

 
...

Que dizes tu de mim?
De que me acusas?

Acharás que nas costas das histórias que te conto dos outros, existe a possibilidade de veres expor as tuas?

Acharás tu que a minha vida é um livro, de páginas ilimitadas, e que todas as coisas verterei nos olhos de toda a gente, sem que guarde nada para mim?

De que me acusas que eu não percebo?

Estarei eu condicionado na liberdade que passo para um mundo anónimo, onde a palavra 'quase', se torna às vezes, num total do meu mundo?

"Se falares tudo, ficarás sem nada para escrever..." e se escreveres tudo, ficarás sem nada para sentir...

E se os dias longos, nada forem capazes de sentir, sonharás sobre o quê, quando estiveres a dormir?

Que liberdade é a minha? Aquela que me deixam sentir? E se eu não quiser esta liberdade, estarei eu a atingir, a magoar, a infringir?

Falta um texto...
claro que falta um texto... faltam textos todos os dias... pois os meus dias, anónimos, são cheios de dias e de textos, que não tenho tempo para escrever...

Penso... talvez seja a prioridade das letras, aquilo que me prende a escrita... talvez eu não me organize... talvez tudo esteja errado... como pode?

Não pode?

Não sou eu que decido... eu apenas verto... umas vezes no momento, outras no tormento, outras ainda muito depois no tempo...

Que braços tenho abertos? Apenas aqueles que alguém quer?
Que sonhos tenho eu dentro de mim? Aqueles que não me lembro, aqueles em que acordo, muito antes do fim?

Não! Eu não mando no tempo, pois não mando no nada de nenhum momento... tudo acontece tal como tem de ser, não como quero que seja, mas como o destino quer quer seja.

Não sou dono de mim. Eu sou assim...
Uns vêem-me melhor que outros.

Não percebo a dor... mas lamento!

Será a fidelidade sinónimo de lealdade?
Ou será a lealdade a única forma de fidelidade?

Não sei... falta um texto! Falta sempre um texto...

Este deixo-o aqui!
Não está em mais lado nenhum...
Fica aqui... neste sítio onde o comecei... sítio este, que não escolhi!

M.

Desdenha


Não consigo perceber que formas te fazem tais lembranças.
Não tenho o jeito, não tenho o efeito, não tenho o tempo...
está desfeito!
Não sei que perceber das lembranças que te habitam
pois nada do que digo ou que escrevo ou que faço, sai assim:
Perfeito!

Talvez do homem grande tu guardes as letras
e as mesmas compares a alguém que escreve tretas
Talvez não vejas com os olhos bem as histórias
mas sintas o meu coração, nas insónias... inglórias!

Por defeito nada sinto em mim que valor tenha
por defeito nada ouço além do crepitar queimado da lenha
por defeito tudo faço para que o elogio venha...
mas por defeito talvez seja, por mais que entretenha,
apenas a minha própria compra... na desdenha!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A identificação.





Nos dias de hoje, existe a sensação cada vez mais real, dos limites que a vida nos impõe. E talvez por isso, julgamos que não se pode perder muito tempo à procura de algo, à conquista de algo, a estudar algo… queremos agora e já! A vida são dois dias e o Carnaval são três…




Surge muito à minha volta a identificação com isto, com aquilo, com aquele, com aquela… uma identificação sem fundamento, como se fossemos simples peões no tabuleiro, e uma qualquer força sobrenatural, nos colocasse no caminho o outro lado de nós.


Eu acredito que existe alguém que me guia, e que alguém "ajuda" o meu destino… quer a pregar-me partidas… quer a encontrar entradas ou as saídas. Mas este alguém não está sempre presente… e quando não está, somos nós que, na nossa cada vez maior ambição, manipulamos os momentos, para que nos seja possível a tal identificação com eles.

Falo claro, da química! Sim, a química que as pessoas sentem umas pelas outras. Eu sempre achei engraçado isso da química… uma estranha força que nos mete rapidamente nos lençóis de outra pessoa, a fim de atestar a identificação física com o outro lado de nós… não me admira que depois a fama nos persiga… 
A química também existe nas bebidas e nas comidas… e no dia seguinte, normalmente, a química que sentimos pelo outro, cria uma ressaca enorme… 

Nos dias que correm é esta a sensação que manda: a química! Primeiro a identificação física, depois o resto. Por um lado é bom. A estima costuma ficar em alta com tanto quilómetro de química em túneis percorridos num entra e sai de adrenalina, em busca do entendimento perfeito. Existem mesmo pessoas para quem nada mais interessa, apenas a química. E quando não existe química (23:45 por cada dia) as pessoas não se conhecem, não se sentem, não se vêem…. Mas aqueles 15 minutos de química ui!!!! São uma coisa inexplicável. Quando depois procuram outro tipo de identificação, e descobrem que ela não existe, é um cabo dos trabalhos lidar com o que fica… ou a identificação até existe, mas entretanto já o túnel é largo para o comboio, ou o comboio já é lento para o túnel, ou ambos! 

"Perdemos a química!" é a explicação que surge… lindo! 

- Mas gostas dela? 
– Fui louco por ela, mas…. 
– Sabes, encontrei-a no supermercado… ela é como eu, louca por espinafres… - - Espinafres?

Eu nunca dei grande relevância à química. Sempre achei que os preliminares de uma qualquer relação, longa ou curta, intensa ou suave, são o conhecimento recíproco… não me refiro a gostos apenas, refiro-me a uma construção que fazemos do outro dentro de nós, com todas e tantas as coisas conseguirmos, que nos permita atingir aquela identificação, aquele momento em que pensamos que talvez exista uma possibilidade maior que um simples pular para cima… Mas esta identificação custa-nos tempo, custa-nos o silêncio, custa-nos o sustento, custa-nos muito… 

É claro que se não conseguimos depois de uma identificação séria, com tudo o que em nós pode entrar e sair, o mesmo nível de identificação física/química, pode surgir alguma desilusão… algum desalento pela expectativa criada de horas e horas de um abafar dos desejos. 

É natural! Os sonhos são como os filmes… são sempre bonitos e possantes os intervenientes… 

Mas também é verdade que, se a química aparece de repente, desaparece ainda mais depressa, enquanto que a identificação com os sorrisos, os prantos, os espantos, os desabafos, os defeitos, uma vez construída, jamais se perde, pelo contrário, nos prende… e além disso, porque todos andamos na escola um dia… a química também se aprende!

E assim, reescrevo um provérbio:

A química são dois dias, mas a vida são três…

(texto antigo - em modo lembranças)

Cada um vê o que quer

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Apenas por isso


...não há nada como quando são as palavras que mandam em nós... e não o contrário...
Eu estou a interiorizar a minha condição. A tristeza que senti deu-me alguma trégua, e agora preocupam-me apenas os aspectos mais materiais da mudança.

Com o meu coração eu vou lidando, mas com o mundo é mais difícil.

Procuro a motivação e energia em tantas coisas...

Todo o meu novo trajecto apenas agora começou e muitos dias duros, de coisas duras e de sentimentos maus, ainda vão surgir... mas neste momento, estou a dar tréguas a mim próprio...
Estou a absorver as despedidas... nem tudo nas despedidas tem que ser triste... é isso que estou a fazer agora.
E é tão difícil decidir fazer, começar a fazer... que coisas serão mesmo minhas... quais quero e não quero...
Não me assusta muito isto da perda de qualidade de vida, que não sendo nada de extraordinária, fica mais complicada agora... 
Assusta-me não fazer ideia de para onde vou... que contas farei e como farei para lhes fazer face...
Assusta-me cair naquele sentimento que já tive de não querer, ao fim do dia, voltar para casa... pois as rotinas, os espaços... já não estão lá!

Também me apoquenta isto de nada ser definitivo... nunca fecho portas dentro de mim... é assustador pensar que é mesmo o fim de tantas coisas...

As pessoas... sim as pessoas... aquelas a quem chamo (por dentro) de mãe e pai e irmãos... que, inevitavelmente, deixarei de ver... assustam-me as perguntas dos meus sobrinhos, quando as fizerem...

Assusta-me que as memórias de tantos anos e de tantas dificuldades, deixem de me fazer sorrir pelo que foi possível ultrapassar, e que me passem a atormentar, como momentos de uma história que já não existe... pois não se pode repetir.

Muitas vezes penso nisso... enterrar tudo! Deitar-lhe o fogo e virar costas... mas, como deitas fogo às tuas memórias? Aos pedaços de ti, que mais que nunca, não são nem foram, só teus?

Por outro lado, percebo que por mim, continuaria assim, rendido a um destino que influencio mas não o suficiente, e para o qual não consigo já acrescentar felicidade...
 
É corajosa ela... pois na certeza que nas decisões coloca, não esquece nenhum principio... 

Talvez se case rapidamente com qualquer outro... iludida que será pelo passar dos anos... ou talvez fique assim, mergulhada na capacidade imensa que tem de viver sozinha e independente...

Escolhi-a para mãe dos filhos que nunca tive... Entristece-me...

Farei tudo para negar a revolta que sinto por ser descartado, merecidamente descartado, e farei tudo para estar à altura do que ela sempre foi para mim...

Por isso é tão difícil... apenas por isso!

(1 de Maio de 2011)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Hoje...


"Hoje vou para casa mais cedo. Tenho que estudar, tenho que estender, tenho que passar, tenho que ver programas, tenho que responder a emails e tenho que fazer amizades... e tenho que dormir, e tenho que descansar a dormir, e tenho que pensar, e definir e reagir e acreditar... são muitas coisas para um dia... ou talvez, eu seja apenas pequeno demais para os dias que tenho."

Não me parece...


"Nos meus momentos de egocentrismo, costumo pensar que não tenho braços suficientes para todos os abraços que me querem dar... mas noutros, penso é que tenho uns braços indisciplinados, de tal forma grandes e abrangentes, que se tornam rapidamente dos outros, e deixam de ser meus...

Não me parece justo que me tentem arrancar aquilo que é meu. Não me parece justo que eu deixe de ser propriedade de mim próprio. Não me parece justo, que de repente, possa ficar refém do "não ausente", só porque durante tempos, optei sempre por estar presente..."

segunda-feira, 11 de julho de 2011


"De vez em quando aparece um raio, por entre as nuvens escuras da podridão, que mostra ao povo a sua própria luz, a sua própria cor. O instante que esse raio dura, aquece os homens o suficiente para suster 100 Invernos, 100 dilúvios.
E cada dia negro que passa, enquanto o raio não volta, só fará nos homens crescer a força, para que possam aproveitar melhor os momentos de glória, da sua própria história."

domingo, 3 de julho de 2011

Uma seta!


Dou por mim subjugado às vontades...

Talvez merecesse um pouco menos do que isto, pelas aventuras em que deixei viver o meu pensamento... talvez merecesse mais... afinal, sempre fiz o melhor que sabia... mas tudo isso parece que foi esquecido, e o que fica, são os últimos momentos, aqueles em que me contradizia...

Muito bem, digo a mim próprio, tentando de alguma forma ganhar tempo que não tenho, para mudar a rotina... esta rotina do esquecimento.

Sei que, por entre todos estes calhaus que de repente me impedem as passagens, existe algures uma saída... ou duas... ou talvez existam muitas mais saídas... ou talvez saída nenhuma...

Se me pergunto "o que vais fazer?" eu não sei dizer...

Olhando a estrada, muitas vezes esqueço o meu destino... embora ele esteja traçado desde aquele primeiro segundo do meu primeiro dia. 
No entanto, dias existem que por mais volta que eu dê numa rotunda, de tão conhecida que ela é, não consigo situá-la, não consigo naquele momento perceber para que caminhos me aponta...

Ando e ando e ando... maldito este "gps" desactualizado, que não encontra os caminhos, novos caminhos...

Ok! Já percebi... sigo a seta não é?

Pouco a pouco, pouco a pouco... aí vou eu!

Preparo-me já?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Homens que não partem...


Vagueou. Vagueou desde cedo... Nas estradas, nas letras, nos amores, nas lutas... Amou... Amou muito e durante muito tempo.
Morreu cego.
Morreu cego mesmo quando a pistola rompeu a fonte e a luz cheia de saudade entrou pela ultima vez, no último minuto escuro da sua existência.
Morreu.
Quem me dera ter nascido e vivido assim. Ter sorrido e chorado, ter sentido a dor depois de espancado, na cadeia fechado ou pelo amor desesperado...
Quem me dera ter assim sonhado e escrito... Quem me dera ter assim acabado... Assim... Cego e triste e magoado, sem antes ter relembrado, revivido os dias de fado... Dias ora tristes ora de luta, ora parcos na esperança, ora cheios de sensações e cores e sabores... Como salada de fruta...
Quem me dera uma história assim...
Mesmo sendo o fim como este fim.
Porque muitos vivem e morrem, mas poucos nascem com o dom de nascer e nascer e renascer...
Mesmo depois de morrer...

Hoje, eu conheci Camilo Castelo Branco.