Não tenho este direito...
Não
tenho este direito de propagar o defeito que é ser tão sensível que me
torno insensível... Não tenho o direito de amar em meu proveito e
magoar-te desta forma íncrivel... não! Não tenho este direito.
Porque
quando pensas que a tua história magoa a minha história, quando pensas
que o esforço és tu que tens fazer, que a dor tem que ser tua e só tua,
quando pensas que causas a rotura, quando sentes que não és pura,
quando assumes teus os meus erros, assumes teus os meus desencontros, os
meus contos, os meus pesadelos... sou eu que espeto no teu peito uma
faca que devia estar no meu...
Porque
não tenho este direito... não tenho o direito de te magoar as pétalas,
de as arrancar uma a uma e de as pisar desta forma...
Porque
eu amo quem eu quero e quando eu quero e da forma que eu quero. Porque
eu pagarei o preço que tiver que pagar por esta luta, algo injusta, mas
que é minha, que quando ta descrevo, sim também é tua! Porque fazes
parte dela mas não tens culpa, porque quero que a conheças sem
necessitar de lupa, porque te quero dar, o que não posso dar, porque
quero de ti, o que não posso ter...
Desculpa! Eu não tenho este direito...
Porque todos os sorrisos desaparecem, no momento em que as tuas lágrimas descem pela tua face escura...
porque
a minha face branca, quando não te encanta, entristece, fecha-se sobre
si mesma, cheia de amargura... porque é o teu sorriso que a ilumina, são
os teus olhos grandes e secos que lhe dão vida.
Não
tenho este direito de atormentar a tua vida, não tenho o direito de te
afectar os passos, com os meus compassos... de te dar música quando
queres silêncio, de te dar letras tristes, em tons desafinados, presos e
deprimentes...
Não
tenho esse direito... não tenho o direito de carregar em ti o peso que
tiraste de mim... não tenho direito de responder à tua forma de amar,
com esta forma de estar, de maltratar... não tenho o direito de te dar o
meu sorriso, de conquistar o teu, e depois arrancá-lo de ti, como se
tivesse sido sempre meu...
Porque
gosto de ti... porque preciso de ti... porque esta não é a forma certa
de gostar, e se te magoa, então tenho que a matar... para que renasça
com a força certa!
Porque
os abraços que guardo não são estes que sentiste hoje... os abraços que
quero são diferentes, são abraços dados e não trocados ou roubados...
são beijos lentos e não cinzentos... beijos do coração...
Porque não te quero nunca perder... Porque não quero que desejes perder-me...
Porque
todas as nossas letras não serão nunca esquecidas, serão lidas e
relidas, para que o seu significado prevaleça, para que a música que te
toco todos os dias, esteja pronta, seja tua, como foi desde o início...
para que os nossos joelhos se encontrem de novo debaixo de um qualquer
mesa, para que as minhas mãos encontrem as tuas, sem o peso das feridas
que hoje nelas marquei, e que na tua parte do meu rosto, encontre a
alegria que vi transbordar pela minha presença, pela minha visita...
Perguntaste um dia se merecias isto tudo.... merecias muito mais do que isto que sentiste hoje certamente...
Será
que eu mereço tudo o que me deste? Se calhar não... não porque tenha
nascido já sem esse merecimento, mas porque conquistei-o e depois
desperdicei-o... talvez porque não te querendo nunca iludir, desiludi-te
na mesma...
Espero
que me perdoes as coisas que fiz e que te fizeram mal... espero que
recordes as coisas boas que te dei, que foram sempre tuas e eu não
sabia, as coisas que nunca foram de ninguém...
Espero
que me convides a respirar o teu ar, que me convides a olhar o teu
olhar, que me convides um dia para qualquer coisa, até para em silêncio
ver o mar...
Espero
que vivas, que sorrias, que ames com todas as tuas forças... porque uma
flor precisa de amor e precisa de amar... e este é o momento em que
tens a oportunidade para o fazer, a oportunidade de ser verdadeiramente
amada, a oportunidade de veres nascer de ti uma vida, uma nova vida, uma
nova flor, uma nova luz, um novo dia...
Eu
aqui fechado... estarei apenas à espera que precises de mim de novo...
para um sorriso, para uma visita ao nevoeiro, para um beijo no escuro,
para uma conversa em silêncio, para o que quiseres... desde que te faça
feliz...
Mas
não posso continuar a escrever, sabendo que o que sinto e o que te
transmito, anula o teu riso, alimenta o teu pranto e aumenta por mim o
teu desencanto.
Adoro-te. Tu sabes.
(21 de Dezembro de 2009)