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terça-feira, 30 de novembro de 2010


Eu podia dizer que sim, que serei capaz, que serei audaz, que serei eficaz...
Podia mesmo dizer que tudo vai correr bem, e que no fim de tudo, um grande sorriso ocupará o espaço da minha cara que neste momento raramente se vê...
Mas não me iludo. Vou-me estampar ao longo do caminho... é certinho!
Não vai correr bem, não serei capaz...
Vou-me estampar...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Se eu escrevesse no Dn, no Record ou no Jn


Se eu escrevesse, contaria uma pequena história. Uma descrição perfeita de um dos meus dias.
Começaria assim:
"Ontem, não sei porquê... não sei mesmo porquê, senti um impulso a afastar-me do restaurante. Decidi ir para casa mais cedo. Sentia-me cansado de mais um dia de trabalho.  É normal pensei eu... milhões de portugueses estarão a fazer o mesmo. A regressar a casa cansados de um dia cheio de problemas, regras, tarefas e conversas sérias.
Chegado a casa, pousei o casaco, peguei na minha viola e comecei uma música no meu tão usual lá maior. Tentei cantar mas não consegui. A vida não está para cantigas. Num momento, saltei para a cozinha, peguei na grande faca afiada, e comecei a retirar lentamente a casca de 3 batatas médias. Gosto de descascar batatas lentamente para que a casca fique no fim, enrolada, perfeita, à qual falta apenas o interior para garantir a forma original e enganar a vista. Depois cortei-as cuidadosamente em pequenas quadrados... Bem, nos cantos nunca ficam quadrados. Pus a fritar. Do congelador tirei 3 hamburgers... que se lixe a vida de contenção... eu quero é fartura! Grelhei-os cuidadosamente, regando-os apenas com um pouquinho de limão. Não tardou, estava na mesa de jantar.
Cumpro o ritual de ligar a televisão na TVI, para depois de 3 segundos mudar para outro canal qualquer. As batatas estavam tostadinhas, e ía afundando-as maravilhosamente,  em montes feitos de maionese colocados na beira do prato. Os hamburguers estavam ainda melhores... daquele talho são mesmo bons!
Ao terminar, olho para a televisão, aumento o som e, mais uma vez, senti-me um sortudo. Em breves segundos percebi que, assim como eu, milhões de portugueses tinham acabado de comer 3 batatas. Três grandes batatas... mas ao contrário de mim, comeram-nas inteiras, cruas, de uma dentada só, sem hamburgers, sem maionese, sem nada..."

Se eu escrevesse no Dn, no Record ou no Jn, hoje escreveria, por solideriedade apenas:
"Sim! Eu também comi 3 batatas ontem!"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Zonas...

Zona de conforto.
As pessoas falam-me muito nisto ultimamente... zona de conforto! Eu próprio nas minhas leituras meio auto-ajuda, meio entre-ajuda, tenho visto várias referências a esta zona. E a forma como me falam disto tende sempre a indicar-me o caminho para uma maior felicidade, ou para a felicidade, exactamente para fora desta tal zona de conforto. E isto baralha-me... então a felicidade está fora da zona de conforto?
Sem que se note muito, eu desespero para que me expliquem o que significa isto. Durante toda a minha vida julguei que as pessoas procurassem o conforto. Não digo apenas material, dependente de uma boa casa, ou de uma boa situação financeira melhor dizendo, que nos permita viver sem sobressaltos, mas também um conforto interior com as pessoas, as relações, os amigos, de forma a que tenhamos uma vida mais tranquila, sem sobressaltos, sem percalços desmesurados... mas afinal, parece que atingindo uma zona mínima de conforto, supostamente, a nossa alegria está fora desta zona... não entendo!
Raramente as pessoas me explicam bem o que significa, até porque fazendo-me entendido e esclarecido, eu não pergunto, aceno com a cabeça num sinal de aprovação, apenas com um pouco de reserva, sem convicção. Inevitável! Estas pessoas certamente chegaram a esta conclusão pelas vivências, pelos conselhos de alguém mais vivido e re-vivido... analiso! E não entendo. De repente imagino as pessoas a deixar as suas vidas confortáveis para ir para Africa ajudar quem precisa... mas Africa é capaz de ser longe... imagino as pessoas saírem de casa, deixar familiares e amigos e procurar noutra região, noutro país, noutra cultura, ajudar outras vidas, e com isso, arranjar significado para a vida... mas é capaz de ser insustentável, é que ninguém vive de 'obrigados'... depois pensei que talvez a frase seja mais simples... olho em volta e vejo tentativas de abandonar zonas de conforto... sei lá! mudanças de trabalho porque o trabalho já não dá prazer... mudanças de casa... abandono do ninho... mais uma vez, analiso! Vejo tímidas tentativas de facto... mas que rapidamente se tornam em regressos a sítios que nunca se deixaram, ou então arrependimentos silenciados, mas de tal forma marcados nas faces, que facilmente percebo, que a felicidade também não está fora da zona de conforto... vejo alguns casos de sucesso, aparente... a saída da zona de conforto, do ninho, do sitio é um estimulante. As mudanças trazem novas coisas, novas rotinas, novas rimas... mas nós pessoas, temos uma capacidade impressionante, de procurar o conforto... É curioso ver pessoas que andam super felizes porque decidiram viver sozinhas, quando saem de casa dos pais, ou dos maridos, e enquanto este processo se desenrola, nasce dentro delas uma felicidade difícil de justificar, aquela azafama de preparar tudo, de encher divisões, de ordenar questões... como decorar, novas formas de sentar, de dormir, de amar as coisas... uma azafama feliz que não pára enquanto não estabilizar tudo... a felicidade é uma energia maravilhosa... em pouco tempo tudo estará como planeado... O sofá, a televisão, a estante, os cortinados, a janela ao fundo da cama como sempre desejamos... deitamo-nos num domingo à tarde, na mesinha o livro que abrimos como o sorriso... finalmente, o descanso! O Conforto... Adormecemos... 
No dia seguinte o trabalho parece outra coisa... detestava-o mas as mudanças têm esta coisa de maravilhoso... rapidamente trazemos pessoas para junto de nós... são precisas pessoas ao pé de nós nas horas vazias... e de repente... este conforto é desconfortável de novo... mas que raio! E vai de desfazer tudo e voltar para trás, quando é possível... os abraços aos pais, aos maridos... aos nossos pequenos caprichos, aos nossos pequenos suplícios...
De repente, a memória de aluno excelente que fui invade-me o horizonte iluminado... "fartas-te de estudar..." diziam ao qual eu respondia "Nem por isso...", e ninguém me levava a sério... tentava desmontar dizendo que estudava mais matemática e história porque não gostava, e que não estudava inglês porque gostava muito de inglês... e continuava a desvendar dizendo que a atenção nas aulas deveria incidir sobre as matérias que menos nos agradavam, porque as outras facilmente teríamos positiva... afinal de contas, sempre procurei sair da minha zona de conforto, para que me sentisse confortável, não noutro sitio, mas em qualquer sitio! Não me serviu de muito... os anos passaram e hoje penso que não consigo ser feliz em lado algum, e talvez por isso, não ache vantajoso abandonar a minha zona de conforto, porque facilmente tornaria essa nova zona num conforto aparente... 
Mas... agora que penso bem... talvez tenham razão! Eu tenho que sair da minha zona de conforto... e tenho que fazer como quando não sabia por que o fazia... quando eu era criança! Afinal de contas os resultados foram muito bons... Pensando bem... eu tenho feito isso mesmo! É isso que tenho feito... cozinho em vez de esperar que cozinhem para mim, acrescento pessoas em vez de as substituir, tento compor em vez de desfazer, tento ganhar algo, quando é mais fácil perder... tento criar em vez de imitar... tento conciliar em vez de cortar, tento fugir, em vez de mentir, adiar futuros em vez de os destruir...tento deitar-me de olhos bem abertos, que deixar-me adormecer em jogos que podem magoar...ora isto se calhar é sair da zona de conforto. Ou se calhar é manter-me na zona menos confortável do conforto? Ou será que vivo no desconforto??


Baralhei-me de novo...
Não percebo isso do conforto... 


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Busco a...


...Serenidade

"A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. 
poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de uma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. 
Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade."

Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

há um ano...

Terça-feira, 17 de Novembro de 2009


Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.


Eugénio de Andrade

Assobiado


Desde miúdo que tenho esta coisa... esta coisa!
Aqui posso dar-lhe nome: medo; cagaço; fobia.
Acontece mais de noite. 
Tenho a sensação a cada mudança de esquina que alguém ou alguma coisa me observa... tento ignorar e convencer-me que é tudo da minha cabeça e que as pessoas é que são um problema... as coisas que imaginamos são apenas coisas...
Mas agora acontece-me de dia... pela primeira vez na vida consegui registar uma dessas coisas... e sinto-me como um raptado por alienígenas que consegue provar que eles existem...
É claro que a foto não tem nada de especial, nada de anormal... é tudo fantasia da minha cabeça!
O que é certo é que passei por esta árvore, sei lá, umas 200 vezes... mas neste dia ela estava a olhar para mim... quase que falou comigo... um assobio em frequência alta que me fez olhar de repente...
A foto real, a cores, quando a vi, não representava bem aquilo que eu vi... esta que aqui coloco é, talvez, o mais aproximado do que vi... e que ela estava a olhar para mim, estava! Alguém pendurado nela me assobiava... garanto-me que assobiava!
Porquê? Não sei...


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Razão


É verdade! Aborrece-me que pareça que decida com a cabeça no ar, quando uma decisão é baseada em milhares de coisas escritas, vistas, pensadas, olhadas ao mais ínfimo pormenor...

Preso por ter cão e por não ter!

Eu não decido com a cabeça no ar... não vivo numa bolha de ar, de sabão...
Tenho um coração e uma cabeça e sigo ambos, tentando um acordo, por entre algum descontrolo é certo, e depois decido.
Tudo o que o meu coração deseja, passa mais tarde ou mais cedo pela minha cabeça. Não existe uma sobreposição de um ao outro, apenas uma intensa negociação, até que seja eleito um caminho, até que exista fumo branco, que aparece pujante, entre um clarão.

Por vezes é muito difícil lidar com os dois. Mas nenhum deles critica, condena ou tem que dizer do outro. Se o coração exige, a cabeça dá tempo, estabelece limites, define prazos e deixa que o coração vá sentido... até ao dia da decisão.

Se a cabeça decide, e o coração se queixa, a cabeça arranja caminhos, dá tempo para que lide com os afectos, os torne sãos... dá até oportunidade para que o coração imponha recurso, que possa até fomentar nova decisão...

Se a cabeça segue e o coração quebra, é definida uma estratégia para que o coração não se perca, olhe em frente, e cresça...

Umas vezes ganha um, muitas ganha o outro... eles confiam um no outro... e um não vive sem o outro.
Os pressupostos foram cumpridos, os prazos definidos, os amores foram sentidos... 
os tempos para compensação foram cedidos.
Desta vez ganhou a razão!
Talvez por isso, este texto não seja escrito como outros, com muito coração...

Talvez por isso hoje tenha a certeza, matematicamente comprovada, que no fim dos dias não existirá qualquer tristeza, antes um sorriso último entre ambos, tão ou mais sincero, tão ou mais bonito que o primeiro, aquele que me aqueceu a vida, quando em mim na altura, parecia não existir qualquer contrapartida, pensada ou sentida, qualquer trajecto, qualquer saída...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tristeza


O meu coração de pedra foi baleado... foi perfurado, esventrado, invadido por uma capsula quente, de ponta fina, forte e ardente...
O meu coração de pedra foi baleado... e agora bate ferido, no seu interior ardido, destruído...
O meu coração de pedra foi baleado... e agora vive em coma induzido, perdeu a força, a dureza, o sentido... não sangra, não se nota que dói, não se manifesta... perante o choque da descoberta da sua própria fraqueza, a dureza, acabou por endurecer o significado dos seus infinitos dias... uma infinita, silenciada e dolorosa batida, a da tristeza!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

órgãos acabados em 'ões'


Não são mais que ondas de choque isto que sinto, que me faz balançar entre o imaginado e o visto, à medida que as horas passam e não param, nas razões do meu esquecimento...
Talvez hoje perceba melhor o fim, e tudo o que, sem dúvida, mágoa ou arrependimento eu vivi. Pois entre o piscar de olhos, às vezes inconsequente, outras vezes penoso e dormente, vai aparecendo, revestido de alguma serenidade, o sorriso que ao longo dos anos perdi...
Não sei classificar, a maior parte das vezes, as sementes que dentro de mim crescem, assim como não sei muito bem distinguir, quais darão frutos, quais darão sustos... na verdade, nada disso me importa, assusta ou apoquenta... será tudo como for! Faz-me lembrar viagens de bicicleta sem travões, em que nada me restava que desviar de portões, de paredões, de multidões e cuja única preocupação na altura, era safar-me o mais possível, das dores prováveis em órgãos acabados em 'ões'...
Consegui muitas vezes chegar ao fim da encosta, e ao endireitar da via, abrandar, com o coração já a engasgar, encostar e observar o feito, com 'aquele' calor no peito. Outras... bem outras acabei por cair, e com isso permiti que as marcas do desafio fizessem parte para sempre de mim, como que palavras soltas gravadas na pele, cicatrizes, que de quando em vez, me lembram "eu sobrevivi!"

E é isso que vejo hoje! Sobrevivi! Aprendi! Sinto ainda 'aquele' calor no peito... Olho para trás e penso: "Para a próxima, serei melhor, serei mais esperto, serei mais audaz... e quiçá estarei mais perto, de descer a encosta no tempo e ritmo certo, e nesse dia sem arranhões, dores ou empurrões, dizer finalmente, eu fui perfeito!"

domingo, 7 de novembro de 2010

A dança


Percebi hoje numa aula de dança, que não existem mulheres feias, gordas, altas, baixas, magras... 
a dançar, todas as mulheres são incrivelmente bonitas, incrivelmente sensuais, incrivelmente sedutoras...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

enojam-me...

enojam-me os que violentam os outros com os olhares, 
com as críticas, 
com as atitudes...
enojam-me aqueles que, 
com más condutas, 
ocupam a nossa mente,
fazendo com que deixemos de acreditar em tudo e em todos, 
facilmente...
enojam-me aqueles que nos roubam a inocência, 
aqueles que se apoderam da nossa carcaça, 
que nos maltratam a existência, 
e fazem dela uso para a sua demência...
enojam-me os que tocam sem que queiramos, 
aqueles que olham quando parados ficamos, 
quando em viagem descansamos, 
os que nos perseguem quando queremos estar sozinhos, 
os que usam e abusam dos cruzamentos,
dos nossos destinos... enojam-me...
enojam-me esses seres disfarçados de pessoas que nos apressam os passos, 
que nos inibem dos abraços, 
aqueles a quem Deus não castiga, 
por tamanhos actos...
Sou eu homem e tive sorte, 
de me livrar pelo genero de tais embaraços... 
tive eu sorte de na minha vida, 
não me ter cruzado com esses palhaços...
tive eu sorte... e tiveram eles sorte... 
porque acredito que de todos os medos que eu tenho, 
medo nenhum teria, 
de com a faca da loucura, 
cortar-lhes bem rente, 
os chumaços!





terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados

Não gosto deste dia... não gosto dos dias anteriores, dos dias posteriores.


Não me deixa triste, ou em baixo, depressivo... afinal de contas já passei a barreira dos trinta e existem coisas que acabam por ficar bem cimentadas em nós. O que é certo, é que me sinto estranho, aborrecido, chateado até, sem saber muito bem como lidar, levanto a cabeça, mas não sei como viver... os minutos são tão longos que me sufocam.


Apenas por curiosidade, comprei e li de uma vez, o livro do António Feio - um livro muito bom que nos faz pensar muito, que nos faz chorar por dentro, e que, no fim, nos faz rir e festejar a vida - o que também acaba por acentuar este desconforto, apesar do conforto final de acreditar (inocentemente) que um livro, uma história, pode mudar-nos a vida... existem coincidências que são dificeis de perceber.


Hoje que já passou, sinto-me um pouco melhor... no entanto, aqui estou a escrever sobre isto!


Faltam-me coisas. Tantas coisas. Talvez por isso, na forma como preencho o tempo imenso, acabe por fazer o que fiz, sem me lembrar bem por que o fiz... talvez por isso tire fotografias, que no meio de tantas aleatóriamente guardadas, acabam por me mostrar tanto daquilo que eu não tenho... uma linha de comboio, um coração entre feijões, um computador entre plantas, uma estrada feita com os feijões, do coração...


Vão sendo assim os meus dias... as minhas vidas... as minhas múltiplas personalidades...


Lamento apenas, que no meio de tantas coisas, não seja possível fotografar, nem mesmo imaginar como seria, o meu sorriso, além daquele que fiz e guardei, no meio dos meus feijões.