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quinta-feira, 14 de julho de 2011

A identificação.





Nos dias de hoje, existe a sensação cada vez mais real, dos limites que a vida nos impõe. E talvez por isso, julgamos que não se pode perder muito tempo à procura de algo, à conquista de algo, a estudar algo… queremos agora e já! A vida são dois dias e o Carnaval são três…




Surge muito à minha volta a identificação com isto, com aquilo, com aquele, com aquela… uma identificação sem fundamento, como se fossemos simples peões no tabuleiro, e uma qualquer força sobrenatural, nos colocasse no caminho o outro lado de nós.


Eu acredito que existe alguém que me guia, e que alguém "ajuda" o meu destino… quer a pregar-me partidas… quer a encontrar entradas ou as saídas. Mas este alguém não está sempre presente… e quando não está, somos nós que, na nossa cada vez maior ambição, manipulamos os momentos, para que nos seja possível a tal identificação com eles.

Falo claro, da química! Sim, a química que as pessoas sentem umas pelas outras. Eu sempre achei engraçado isso da química… uma estranha força que nos mete rapidamente nos lençóis de outra pessoa, a fim de atestar a identificação física com o outro lado de nós… não me admira que depois a fama nos persiga… 
A química também existe nas bebidas e nas comidas… e no dia seguinte, normalmente, a química que sentimos pelo outro, cria uma ressaca enorme… 

Nos dias que correm é esta a sensação que manda: a química! Primeiro a identificação física, depois o resto. Por um lado é bom. A estima costuma ficar em alta com tanto quilómetro de química em túneis percorridos num entra e sai de adrenalina, em busca do entendimento perfeito. Existem mesmo pessoas para quem nada mais interessa, apenas a química. E quando não existe química (23:45 por cada dia) as pessoas não se conhecem, não se sentem, não se vêem…. Mas aqueles 15 minutos de química ui!!!! São uma coisa inexplicável. Quando depois procuram outro tipo de identificação, e descobrem que ela não existe, é um cabo dos trabalhos lidar com o que fica… ou a identificação até existe, mas entretanto já o túnel é largo para o comboio, ou o comboio já é lento para o túnel, ou ambos! 

"Perdemos a química!" é a explicação que surge… lindo! 

- Mas gostas dela? 
– Fui louco por ela, mas…. 
– Sabes, encontrei-a no supermercado… ela é como eu, louca por espinafres… - - Espinafres?

Eu nunca dei grande relevância à química. Sempre achei que os preliminares de uma qualquer relação, longa ou curta, intensa ou suave, são o conhecimento recíproco… não me refiro a gostos apenas, refiro-me a uma construção que fazemos do outro dentro de nós, com todas e tantas as coisas conseguirmos, que nos permita atingir aquela identificação, aquele momento em que pensamos que talvez exista uma possibilidade maior que um simples pular para cima… Mas esta identificação custa-nos tempo, custa-nos o silêncio, custa-nos o sustento, custa-nos muito… 

É claro que se não conseguimos depois de uma identificação séria, com tudo o que em nós pode entrar e sair, o mesmo nível de identificação física/química, pode surgir alguma desilusão… algum desalento pela expectativa criada de horas e horas de um abafar dos desejos. 

É natural! Os sonhos são como os filmes… são sempre bonitos e possantes os intervenientes… 

Mas também é verdade que, se a química aparece de repente, desaparece ainda mais depressa, enquanto que a identificação com os sorrisos, os prantos, os espantos, os desabafos, os defeitos, uma vez construída, jamais se perde, pelo contrário, nos prende… e além disso, porque todos andamos na escola um dia… a química também se aprende!

E assim, reescrevo um provérbio:

A química são dois dias, mas a vida são três…

(texto antigo - em modo lembranças)

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