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segunda-feira, 25 de julho de 2011

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Vamos falar de SENTIMENTOS?
(5 de Maio de 2010)

É inevitável... as pessoas gostam umas das outras e querem tudo do melhor para aqueles de que gostam, e compreendem tudo quando gostam, e até aceitam ser postas de parte desde que isso seja bom para aqueles que gostam... É assim... o gostar é uma coisa magnífica... tudo de bom para todos vós, aqueles de quem eu gosto...

Mas atenção!!! As pessoas gostam de nós enquanto estivermos disponíveis para lhes dar tudo o que elas querem... compreendem tudo claro! mas se deixamos de ser exactamente aquilo que pretendem, então nada feito, já não querem saber de nós, já não se preocupam, já somos isto, já somos aquilo... se nos aproveitamos do seu gostar, somos abusadores, somos uns filhos da mãe, se não nos aproveitamos, se decidimos que esse gostar merece o dobro em troca, se decidirmos que por falta de certeza, o melhor é não destruir um gostar tão grande e tão honesto... então não desejamos, então não gostamos o suficiente, então desperdiçamos, então somos uns filhos da mãe, somos uns burros... como podemos nós recusar tal gostar?
Bem... quando as pessoas gostam de nós, e nós também gostamos dessas pessoas, elas esperam de nós tudo, em troca do tudo que elas nos dão... Sendo que o tudo é muito vago para medições tão complexas. E aí está toda a razão para o meu pensar demasiado, para todo este meu cansaço, para todo este meu embaraço...
Para muitos, não importa se a troca é justa, não importa o que se perde... o que importa, é seguir o coração... o que importa é gostar... e o gostar é tudo... e é tudo mais fácil quando temos connosco a pessoa que gostamos...
Mas é mais fácil para quem? Para quem recebe, para quem perde alguma coisa, para quem dá? Para quem é trocado? Para quem troca? Para todos?
Em nome do gostar, existem pessoas que abdicam de tudo. Em troca de apenas um sentimento que neles próprios cresce, agem convencidos apenas que o outro sente o mesmo, e que isso justifica tudo. E se calhar, justifica!
É lindo gostar assim não é?
E é fácil sermos confrontados com o que essas pessoas querem de nós... mesmo quando não nos querem confrontar com nada...
Pois eu também sou assim... faço tudo por um sentimento! 
Dentro de mim os sentimentos borbulham hoje de tal forma, que tenho dificuldade em interpretá-los, em lê-los... por isso escrevo-os imediatamente... não quero perdê-los de vista, perdê-los da memória.
Mas tento desculpar-me se sou um burro, se opto por não me aproveitar, ou se opto por desperdiçar um sentimento... porque a pergunta surge: então e o resto?
O que terá a outra pessoa para me dar em troca, além do sentimento? Mesmo que grande, mesmo que seja o mais forte que eventualmente posso merecer ou algum dia obter?
Terá força, terá independência? Terá objectivos bem definidos? Terá as condições para me suportar quando, manietado pelas perdas e trocas das minhas próprias escolhas, for necessária a sua ajuda?
E se a outra pessoa se apercebe que afinal, as pessoas não são só sentimentos, também precisam de coisas, de segurança, de ajuda... e se de repente, se nascem dúvidas sobre o que somos, o que queremos, o que fizemos? De que serve depois o sentimento? A vida são dois dias... e volta lá para a tua vidinha? Será isso o gostar apaixonado? Será o risco, o combustível do gostar?
É suposto que quem nada ainda tem ou quem anseia ainda por muito, tente alcançar a vida que julga perfeita com todas as suas forças... e é suposto que quem alguma coisa tem, valorize o que conquistou, e que confrontado com um sentimento enorme mas inesperado, um sentimento raro e tão intenso que naturalmente desejamos que nos guie em grande parte da vida, seja capaz de reflectir bem sobre o mesmo, para que possa arriscar tudo, ou arriscar nada, no tempo que achar certo, quando se sentir liberto do peso que pode colocar no outro... no fundo, primeiro sentir-se livre, não das pessoas, mas dos medos de não corresponder, de não ser correspondido, e depois sim arriscar-se por uma nova vida. 
O sentimento, por maior que seja... não chega! É preciso dar e receber... garantias! 
E se abdicar de uma vida por alguém, é uma grande garantia, qual o preço a pagar pelo outro por essa garantia? Será suportável esse preço? Será suportável tal sentimento?
Bem, mas tudo isto não faz sentido nenhum... se estiver a falar de amizade.
É suposto um grande sentimento, ter uma base de amizade, ou não? E ser antes de tudo um amigo, não será respeitar? Não será ter a certeza do que se pode dar, ser amigo não será ter medo de magoar, ter medo do mal que se pode criar?
Estou a falar de amizade... mas também estou a falar de outra coisa.
E, ao olhar para essa outra coisa, tão maravilhosa que me tolda os pensamentos, os momentos, que coloca em causa todos os outros sentimentos, resta-me olhar para dentro e pensar: eu não quero destruir isto... eu não quero correr o risco de destruir isto...
E então escudo-me nos meus medos, peço perdão a tudo e a todos pelo que sinto... fico apenas comigo, e aos outros eu peço: importas-te de ser apenas meu amigo? 
Isto enquanto aqui preso fico, enquanto aqui cresço, enquanto aqui me defino...

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