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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Não fosse o meu passado...

 
Calhou-me num dia de outono tomar esta decisão, de embarcar de alma e coração, no baú da saudade.


Perguntam-me "mas porquê hoje?"
E eu respondo para mim "por que não? Não é verdade?"


Não fosse o passado feito de palavras pálidas... entretanto aquecidas, enrugadas, mal cuidadas, esburacadas, mal amadas, de mim revestidas... depois esquecidas... sujas... das chegadas e das partidas...
...e talvez fosse mais fácil o salto para o futuro, para uma fase depois do fruto maduro, no momento em que no silêncio, se parte o fio que nos une ao tempo, e sem hesitar pois não há mais momento... - não há momento... não há mais momentos(!) - e acabaria o tormento depois do vento, no momento em que o bater seco no fundo, queimaria o meu último segundo... e com ele chegaria, o fim das minhas tristes palavras!

Não fosse o passado...

Lá fora está o pato, o cordeiro, o cigarro, o segredo que quase salta: "Cuidado!"

"Anda!" diz a voz que vem do espaço e eu deixo-me ir... deixo-me ir...

 
Decidi num dia de Outono...

Mas fechar as portas, mesmo que lentamente, como os segundos que morrem na sucessão uns dos outros, é extremamente doloroso...

Viesse o mar e levasse as paredes, levasse os telhados e as sombras com eles... e eu, na verdade, nem saudade de mim para o infinito levava... Não estaria na periferia sentado, a imaginar o mar lá longe revoltado, aquele que eu quis ser um dia... e um dia, num mar submisso, sem fé, sem voz, sem sal... um meio homem meio animal... sem querer, me ter tornado!


Esperança! 
Tenho esperança que tenhas razão Ó Sombra! Esperança que seja eu ainda um dia a esperança, de convencer o mundo que vale a pena a obra, de ficar e não ir embora, e ser eu a acrescentar à hora, os segundos de quem por aí chora... indo lesto pela estrada fora, até onde quase ninguém mora...

Não fosse o meu passado... e um dia de outono!

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