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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Zonas...

Zona de conforto.
As pessoas falam-me muito nisto ultimamente... zona de conforto! Eu próprio nas minhas leituras meio auto-ajuda, meio entre-ajuda, tenho visto várias referências a esta zona. E a forma como me falam disto tende sempre a indicar-me o caminho para uma maior felicidade, ou para a felicidade, exactamente para fora desta tal zona de conforto. E isto baralha-me... então a felicidade está fora da zona de conforto?
Sem que se note muito, eu desespero para que me expliquem o que significa isto. Durante toda a minha vida julguei que as pessoas procurassem o conforto. Não digo apenas material, dependente de uma boa casa, ou de uma boa situação financeira melhor dizendo, que nos permita viver sem sobressaltos, mas também um conforto interior com as pessoas, as relações, os amigos, de forma a que tenhamos uma vida mais tranquila, sem sobressaltos, sem percalços desmesurados... mas afinal, parece que atingindo uma zona mínima de conforto, supostamente, a nossa alegria está fora desta zona... não entendo!
Raramente as pessoas me explicam bem o que significa, até porque fazendo-me entendido e esclarecido, eu não pergunto, aceno com a cabeça num sinal de aprovação, apenas com um pouco de reserva, sem convicção. Inevitável! Estas pessoas certamente chegaram a esta conclusão pelas vivências, pelos conselhos de alguém mais vivido e re-vivido... analiso! E não entendo. De repente imagino as pessoas a deixar as suas vidas confortáveis para ir para Africa ajudar quem precisa... mas Africa é capaz de ser longe... imagino as pessoas saírem de casa, deixar familiares e amigos e procurar noutra região, noutro país, noutra cultura, ajudar outras vidas, e com isso, arranjar significado para a vida... mas é capaz de ser insustentável, é que ninguém vive de 'obrigados'... depois pensei que talvez a frase seja mais simples... olho em volta e vejo tentativas de abandonar zonas de conforto... sei lá! mudanças de trabalho porque o trabalho já não dá prazer... mudanças de casa... abandono do ninho... mais uma vez, analiso! Vejo tímidas tentativas de facto... mas que rapidamente se tornam em regressos a sítios que nunca se deixaram, ou então arrependimentos silenciados, mas de tal forma marcados nas faces, que facilmente percebo, que a felicidade também não está fora da zona de conforto... vejo alguns casos de sucesso, aparente... a saída da zona de conforto, do ninho, do sitio é um estimulante. As mudanças trazem novas coisas, novas rotinas, novas rimas... mas nós pessoas, temos uma capacidade impressionante, de procurar o conforto... É curioso ver pessoas que andam super felizes porque decidiram viver sozinhas, quando saem de casa dos pais, ou dos maridos, e enquanto este processo se desenrola, nasce dentro delas uma felicidade difícil de justificar, aquela azafama de preparar tudo, de encher divisões, de ordenar questões... como decorar, novas formas de sentar, de dormir, de amar as coisas... uma azafama feliz que não pára enquanto não estabilizar tudo... a felicidade é uma energia maravilhosa... em pouco tempo tudo estará como planeado... O sofá, a televisão, a estante, os cortinados, a janela ao fundo da cama como sempre desejamos... deitamo-nos num domingo à tarde, na mesinha o livro que abrimos como o sorriso... finalmente, o descanso! O Conforto... Adormecemos... 
No dia seguinte o trabalho parece outra coisa... detestava-o mas as mudanças têm esta coisa de maravilhoso... rapidamente trazemos pessoas para junto de nós... são precisas pessoas ao pé de nós nas horas vazias... e de repente... este conforto é desconfortável de novo... mas que raio! E vai de desfazer tudo e voltar para trás, quando é possível... os abraços aos pais, aos maridos... aos nossos pequenos caprichos, aos nossos pequenos suplícios...
De repente, a memória de aluno excelente que fui invade-me o horizonte iluminado... "fartas-te de estudar..." diziam ao qual eu respondia "Nem por isso...", e ninguém me levava a sério... tentava desmontar dizendo que estudava mais matemática e história porque não gostava, e que não estudava inglês porque gostava muito de inglês... e continuava a desvendar dizendo que a atenção nas aulas deveria incidir sobre as matérias que menos nos agradavam, porque as outras facilmente teríamos positiva... afinal de contas, sempre procurei sair da minha zona de conforto, para que me sentisse confortável, não noutro sitio, mas em qualquer sitio! Não me serviu de muito... os anos passaram e hoje penso que não consigo ser feliz em lado algum, e talvez por isso, não ache vantajoso abandonar a minha zona de conforto, porque facilmente tornaria essa nova zona num conforto aparente... 
Mas... agora que penso bem... talvez tenham razão! Eu tenho que sair da minha zona de conforto... e tenho que fazer como quando não sabia por que o fazia... quando eu era criança! Afinal de contas os resultados foram muito bons... Pensando bem... eu tenho feito isso mesmo! É isso que tenho feito... cozinho em vez de esperar que cozinhem para mim, acrescento pessoas em vez de as substituir, tento compor em vez de desfazer, tento ganhar algo, quando é mais fácil perder... tento criar em vez de imitar... tento conciliar em vez de cortar, tento fugir, em vez de mentir, adiar futuros em vez de os destruir...tento deitar-me de olhos bem abertos, que deixar-me adormecer em jogos que podem magoar...ora isto se calhar é sair da zona de conforto. Ou se calhar é manter-me na zona menos confortável do conforto? Ou será que vivo no desconforto??


Baralhei-me de novo...
Não percebo isso do conforto... 


2 comentários:

Pérola Negra disse...

Precisas mesmo de uma explicação. Estás a levar a expressão à letra... Isso nem parece teu!
Se calhar não percebes isso da zona de conforto, pois não queres sair da tua...
Depois eu explico-te, se quiseres.

M. disse...

Para bom entendedor e para bom explicador, meia palavra basta. Ora eu não me sinto nem uma coisa nem outra.
Tantas palavras foram escritas e, no fim, o que fica são mesmo as letras, ou o que se vêem directamente nelas.
Não sei de facto o que é querer sair da "zona de conforto", mas sei o que é perder a "zona de conforto" sem querer, apenas porque era assim que teria de acontecer... Tornei-me especialista. Nos exemplos práticos e palpáveis das teclas, existem pensamentos escondidos, que talvez só eu saiba quais são.
Filosoficamente, acho que andamos todos ou quase todos, à espera que o ovo, nasça no cu da galinha! E digo quase todos, porque alguém tem que fazer de galinha...
Estou ansioso pela tua explicação.
Kiss.